Eu saio de casa com a roupa amassada. Não sempre, mas muitas vezes. Uns podem chamar de desleixo, eu prefiro chamar de inaptidão crônica para as desimportâncias humanas. Não é que eu não me incomode com coisas mudandas – me incomo sim, e muito, com as mais diversas coisas sem importância alguma – mas é que não sou uma perfeccionista, então não são os meros detalhes que me incomodam. É o todo de qualquer coisa.
Não me incomodo com toalha molhada em cima da cama, nem com a tampa do vaso levantada, muito menos com a pasta de dentes amassada bem no meio. Me incomodo com a miséria do mundo, a crueldade da humanidade e o péssimo sinal de wifi da NET, e aí todo o resto parece bem pequeno. Por isso também não me incomodo com roupa amassada. Não precisa ser um maracujá, convenhamos, mas os vincos naturais de uma secagem ao ar livre não me incomodam.
Sair de casa amassada é um statement! – e eu inventei essa teoria agora. Sair amassada é um ato de rebeldia contra todas as normativas sociais da vida adulta. Contra toda essa ideia enrijecida de retidão a que somos subjugados diariamente. É apenas uma roupa amassada – olha que metáfora! – mas ela traduz perfeitamente o que se espera de todos os seres humanos: que não tenhamos vincos, nem dobras, nem pregas, nem defeitos. Que mesmo depois de sermos sacudidos pelas intempéries de uma máquina de lavar, tenhamos a sobriedade de passar a limpo nossas marcas, para que ninguém se incomode com nossas cicatrizes.
Se visto uma roupa amassada é por que tenho urgência da vida. Por que meus minutos são preciosos e não posso gastá-los passando camisas a ferro. E se a blusa amassada é sinal de desleixo, deixa eu jogar a real: acordei desleixada mesmo e ela traduz muito bem meu humor do dia por que hoje acordei machucada igual à minha roupa. Quem nunca acordou assim? Se sentindo atropelada pelo cansaço e pelas obrigações? Todo mundo.
Sair de casa com a roupa amassada é quase um atestado de independência feminina, um ato de não-mais-engomarei-minhas-